“Saiba, meu velho, ao envelhecer,
tudo em volta entardece”.
Começa-se tudo bem,
E até nos engrandece,
A vida, o bem supremo,
Quando a velhice aparece.
A seguir tudo se perde,
De tudo a gente esquece,
A lembrança se esvai
Quando a velhice aparece.
A mocidade se foi
Como se eu a temesse,
E fica tudo para atrás
Quando a velhice aparece
E cada cabelo branco
Em nada nos envaidece,
Contrabando do silêncio,
Quando a velhice aparece.
E as vezes não se sente
Cada ano que acontece,
Com este vêm as fraquezas
Quando a velhice aparece.
Pegados à esperança
De que nada sobreviesse,
São somente ilusões
Quando a velhice aparece.
Envelhecer é um drama,
Que se platéia tivesse
Pouco seriam os apláusos
Quando a velhice aparece.
É espetáculo público,
Estranho e que esquece
O povo a assistí-lo,
Quando a velhice aparece.
Tragicomédia impúdica
Que o mundo estabelece,
Humilhando todo homem,
Quando a velhice aparece
De tudo que a vida tem
E que de pronto oferece,
São as saudades imensas
Quando a velhice aparece.
Cortina da juventude
Sobre nossa vida desce,
Encobrindo esperanças
Quando a velhice aparece.
É como primeiro lume,
Entre as frestas permanece,
Escapando só as trevas
Quando a velhice aparece.
Tímidas, belas paixões
Na mocidade se aquece,
Mas logo fogem as forças
Quando a velhice aparece
O rosado da primavera
Ligeiro vai e esmaece,
Leva consigo a alegria
Quando a velhice aparece
Sem direito a receber,
Se pedir você pudesse,
Pois só lhe dão um sorriso
Quando a velhice aparece.
A cada ano que passa
Mais tempo se envelhece,
Não existe o ano novo
Quando a velhice aparece
Perde-se de vista a manhã
E nossa alma padece,
Fica o fosco do crepúsculo
Quando a velhice aparece.
As rimas fogem da mente,
Qual fogo que não aquece,
Ficam os versos com o poeta
Quando a velhice aparece
Das coisas boas da vida,
A saudade permanece
Ela não nos abandona
Quando a velhice aparece.
Doces e ternas lembranças
Que a gente não esquece
Ficarão dentro do peito.
Quando a velhice aparece!
04.01.2005
Deixe um comentário